Lia Dauber
A autora conta, através de uma carta, datada de março de 2021, sobre o que vivemos, desde 2020, por estarmos ameaçados por um vírus que se alastrou pelo mundo inteiro. Refere a estes tempos como traumáticos, por excessos de (des)informação, de incertezas, de medos, de perdas e lutos. Perda da continuidade, do movimento, do ritmo da vida comum, vivência de um colapso, comparada ao sentimento de ameaça de vida quando o bebê se vê frente a perda de um ambiente sustentador que lhe garantia a segurança. Perder a confiança leva a um estado de intensa deprivação. “Ficamos indigentes, despojados do contato pele a pele, dos abraços, dos beijos, do colo aconchegante e reparador, dos encontros festivos… E enfrentamos perdas: do familiar, do emprego, das referências. Ficamos em vigília e alertas; ficou difícil sonhar”. A autora pergunta como sair da paralisia do trauma. Fala das máscaras, como um símbolo de um senso de segurança e de pensar na trama da vida a ser tecida, daqui para a frente. Fala de pequenos gestos de empatia e solidariedade. De cuidado consigo e com o outro. De escutar e ser escutado, pensando que o que dá holding ao bebê também nos sustenta frente ao caos. E fala nos vagalumes para lembrar o quanto ficamos fortes quando reconstruímos a possibilidade de confiar, refazendo laços, juntos! Devemos ficar afastados socialmente, não afetivamente! A luz volta a pulsar e, como farol a dispensar a escuridão; os vagalumes, em bando, podem iluminar um túnel escuro.