Carolina Cardinal Duarte Campaña Maia e Dra. Rosa Maria Tosta
A partir da pandemia do covid-19, as relações de trabalho têm passado por diversas transformações no mundo todo, tornando mais comum o home office e o nomadismo digital. Sendo assim, o uso da internet passou a ocupar a vida das pessoas grande parte do dia, resultando no fenômeno denominado zoom fatigue. A fadiga do zoom afetou, em especial, as mulheres e mães no Brasil, que, além de desempenharem sua atividade profissional online (reuniões infinitas), acompanharam seus filhos nas aulas online e mantiveram comunicações com parentes e amigos pela via online, criando um ambiente de permanente excitação e aceleração característico do digital. Novamente as mulheres são as mais prejudicadas e isso não surpreende. Federici (2017), em seu livro O Calibã e a Bruxa, tece uma crítica ao conceito de acumulação primitiva de Marx, por não ter incluído a exploração e o trabalho das mulheres. Sustenta que, na transição do feudalismo para o capitalismo, o corpo feminino foi apropriado pelo Estado e pelos homens para a reprodução e a acumulação de trabalho. O objetivo deste artigo é compreender a zoom fatigue como expressão da desvalorização da maternidade nos dias de hoje, à luz da teoria winnicottiana e das ideias de Silvia Federici.