Camila Deneno Perez
Qual é o impacto, ao desenvolvimento psíquico de um sujeito, de um segredo sobre sua história? É possível construir vínculos seguros e confiáveis em um ambiente que esconde por anos uma adoção? A partir do caso clínico de uma mulher que foi adotada aos três anos de idade e descobriu aos treze, este trabalho se propõe a pensar sobre os não-ditos e o consequente bloqueio das possibilidades de processamento e elaboração. Ao longo do processo de análise, foi surgindo uma curiosidade e uma busca por memórias, antes inibidas e rechaçadas. Voltar ao tema da adoção, e da história pregressa à adoção, era um movimento sentido por ela como traição e ingratidão com os pais adotivos, o que produziu uma clivagem em relação ao impacto emocional deste acontecimento. Diante de tal impossibilidade no processamento de emoções e percepções, uma enorme ansiedade a deixava frequentemente paralisada. O setting analítico, que no início era inundado por uma inebriante confusão, foi se tornando, ao longo do tempo, um lugar em que podíamos, analista e analisanda, pensar pensamentos, construir lembranças e acolher afetos. Esta experiência evidencia algo que é fundamental, não somente em processos de adoção, mas à saúde psíquica de qualquer ser humano: o acesso à verdade; não a partir de um dito científico, mas da necessária e brincante investigação infantil. Afinal, como diz Eduardo Galeano, para além de um conjunto de átomos, nós somos feitos de histórias.