Diva Reale
Nhac, uma graciosa menininha, em desenho animado, surge vívida e repentinamente em minha consciência; avança em minha direção e se agiganta ao engolir algo que lhe estou oferecendo. Tomo um susto com esta aparição abrupta e compartilho com a paciente o acontecido.
Isto ocorreu no começo dos anos 2000, durante uma das primeiras entrevistas com uma paciente que me procurara por conta de uma depressão e intenso uso de maconha. O reconhecimento de que isto deveria ser uma forma peculiar de comunicação entre inconscientes, a primeira de uma série de objetos evocativos que emergiram da relação terapêutico-analítico norteou o desejo de fazer esta comunicação.
A importância que fui atribuindo ao uso destes objetos nascidos da experiência clínica foi se evidenciando pelo encontro de alguns conceitos de Donald Winnicott – encontro-criação e uso de objetos, constituição do espaço intermediário como forma e locus privilegiados para a relação terapêutica – articulados com os conceitos de Christopher Bollas – idioma pessoal, verdadeiro self, objetos evocativos, dentre outros. A partir da apresentação de vinhetas clínicas, esboçaremos uma discussão preliminar do valor terapêutico do encontro de manifestações, provisoriamente batizadas de selves naufragados, que, almejando serem encontrados, são criados a partir da emergência destes objetos evocativos. Estes objetos evocativos parecem ser um tipo de exsudação da comunicação entre inconscientes. A descrição das condições para que este encontro aconteça será uma contribuição complementar deste trabalho.