Fábio Matheus Cunha da Silva
Winnicott pensa as ansiedades psicóticas como resultado de carências/falhas ambientais que suscitam angústias impensáveis e defesas precoces que interrompem a experiência de ser, bem como a integração do ego. Apesar da teoria winnicottiana centrar a mãe como ambiente do bebê, nos propomos a analisar a multidimensionalidade dos ambientes e falhas que coexistem no mundo interno de uma mulher preta vítima de racismo, no seio de uma família pobre que teve de catar lixo para se alimentar, que escuta na infância os pais conversando sobre a dificuldade que seria a chegada do próximo filho no seio da família. Além do surto, uso de drogas e delírios, a moça vive a perda do “Outro-ambiente” quando seus pais dizem não saber o que fazer com ela, o que nos levará a reflexão da perda da realidade compartilhada na psicose, deixando o ego sob o domínio do id. Nosso propósito é pensar a interrupção da experiência de ser e o sentir das diversas falhas ambientais como produtores do sentido de “não ser” sobre o qual as experiências e significados não são sentidos como próprios e verdadeiros por serem destruídos pela força dos processos primários, encontrando na regressão à dependência a possibilidade de transformação real dos traços mnêmicos (ambiente interno), restituindo a possibilidade de ser em si e continuar o amadurecimento. Esperamos demonstrar o potencial transformador do ambiente subjetivo a partir de Winnicott, da teoria do pensamento complexo de Edgar Morin e da sensibilidade de Clarice Lispector.