Roberta Kehdy

Neste trabalho pretendo pensar a importância da temporalidade e do respeito ao ritmo do paciente, a partir do percurso de análise de um jovem com elementos que considero de uma depressão esquizoide. Desde sua chegada, no final do ensino médio, até o momento atual, 4 anos depois, quando frequenta uma faculdade de música: a dimensão do tempo, mostrou-se elemento fundamental do ambiente transferencial. Sustentar o enquadre foi um grande desafio que exigiu muito manejo. Seja em relação à frequência das sessões ou ao ambiente, presencial, virtual, em função da pandemia de COVID 19. Ele, que se sente frequentemente atropelado por uma velocidade do mundo ao qual ele não consegue acompanhar, expressava seu descompasso com muitas ausências às sessões, sobretudo, próximo das férias escolares que coincidiam com as minhas. Diversas vezes, justificava que perdia a hora, mesmo tendo um alarme para lembrar das sessões, pois estava imerso no ambiente de jogos eletrônicos (atividade, um tanto compulsiva, que funciona como auto calmante). Aos poucos, fomos construindo juntos uma possibilidade de comparecimento aos encontros comigo que puderam ser significados como uma experiência inaugural de constituição de um ritmo e espaço próprios. A dimensão da temporalidade se faz importante também pela presença de muitos sintomas psicossomáticos que vamos trabalhando como uma dificuldade de digerir, metabolizar o que lhe acontece, aí também parece que o tempo Kronos não é suficiente.