EIXO 10: Ambiente e Holding e a tendência antissocial

Esse artigo tem como objetivo analisar a partir de um caso clínico o processo denominado por Winnicott como deprivação que acometeu a sociedade mundial com o surgimento da COVID-19.

Para Winnicott o termo deprivação pode ser muito bem empregado nesse momento. A deprivação segundo o autor, é o estado que se instaura quando: (a) a criança no seu início de vida recebeu cuidados suficientemente bons que foram retirados de maneira abrupta; (b) essa perda levou à vivência de uma aflição intolerável; (c) a criança já estava amadurecida o suficiente para dar-se conta de que foi o ambiente que falhou.

Nos tornamos adultos deprivados, desesperançados e acima de tudo com um medo real da morte em vida. O ambiente estava falhando…

E como o processo analítico como um ambiente-holding que é justamente nessa relação, onde o analista com sua escuta empática, com a busca por manter um ambiente favorável para que a análise ocorra, evocara a confiabilidade, a estabilidade e a esperança para que o paciente se constitua como um verdadeiro self, mesmo que isso seja alcançado a muitos quilômetros de distância, e que a solidão agora seja uma solidão de construção e trabalho psíquico para o analisando e não de um vazio da alma.

Rosa Lucia Paiva
Psicanalista, Mestre em Psicologia Clínica (PUC-Rio); Psicopedagoga clínica e institucional (UNESA); Gerente de Projetos Sociais (FGV); Diretora do Instituto Nebulosa Marginal; Membro do Grupo Brasileiro de Pesquisa Sándor Ferenczi; Pesquisadora convidada do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE – Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Professora do curso de pós graduação em psicanálise e contemporaneidade da UNISUAM RJ.