Joanna Carolina Ramalho e Oliveira Martins
Na maternidade o estranho materno ganha voz por meio do bebê, que é ativo e comunica o indizível. As experiências de vida da mãe são revisitadas de forma inconsciente, e os conflitos psíquicos são atualizados. Quando vivências maternas traumáticas não puderam ser representadas, validadas ou elaboradas, são passíveis de ocasionar repetições de traumas e dores emocionais. Quando a intimidade se faz necessária, consigo própria, sua história e com o bebê, o íntimo por vezes intimida e repele, ao som do trauma indizível jamais acessado e de repetições de desconexões afetivas. Algumas vivências maternas são relativas a experiências psíquicas inconscientes ocorridas em um período onde não puderam ser integradas na subjetividade, tendo em vista a precariedade do aparelho psíquico ou o excesso de estímulos existentes. Estas podem impossibilitar o desenvolvimento de uma intimidade entre mãe e filho, em função do traumático não representado ou recalcado. Este trabalho visa discorrer a respeito da força do inconsciente, de forma imperativa e determinante, de desconexões importantes entre mãe e filho. A ausência de vínculo materno e a desistência da vida possuem relação com o estranho que habita à mãe, bem como, com traumas importantes que não puderam ser traduzidos, acolhidos, pensados e elaborados. Este trabalho aborda conceitos psicanalíticos relativos à constituição psíquica, temática do trauma, desamparo e irrepresentável, a partir de autores como Freud, Bion, Winnicott, Green, Ogden, Roussillon, Aulagnier, Szejer, Zimpek, Trachtenberg, entre outros.