EIXO 8: Ambiente e Holding nas psicoses e neuroses
A erotomania consiste na convicção delirante por parte do sujeito de que outra pessoa está secretamente apaixonada por ela. Denominada pela Psiquiatria como Paranoia Erótica, ou Síndrome de Clérambault, ela se desenvolve em três fases clássicas: a esperança, o despeito e, finalmente, o rancor. A origem dos delírios erotomaníacos é passional e provoca uma ação devastadora na vida das pessoas envolvidas. Para Winnicott as psicoses, esquizóides e estados fronteiriços são fundamentalmente doenças ambientais. Elas se apresentam a nós através de organizações defensivas que foram elaboradas para lidar com as angústias de aniquilação. Ele nos indica também que, quando o paciente encontra um novo ambiente favorável e confiável, pode reiniciar-se o processo de desenvolvimento, através de um novo suporte (holding) ambiental adequado, que permite a regressão do paciente à “dependência absoluta”. Para esses pacientes, quando regredidos, o analista não é sentido como uma pessoa separada; ele simplesmente faz parte do “setting” que vai proporcionar o ambiente para a retomada do desenvolvimento e, numa regressão ainda maior, o paciente e o setting estão confundidos na constituição do narcisismo primário. A manutenção desse holding exige grande trabalho e elaboração do analista consigo mesmo. É muito difícil manter uma atitude não interpretativa sem que se tenha a impressão de não estar fazendo nada, do mesmo modo que é difícil ficar na posição de observador quando o
paciente narcísico está se exibindo. O analista experimenta sentimentos de inutilidade e de ser obliterado pelo paciente. Tem sensação de estar perdendo tempo e recebendo pagamento sem o merecer. Só mais tarde, quando o paciente evoluir, é que poderá avaliar a importância do holding. Podemos afirmar que toda e qualquer pessoa necessita sentir-se sustentada ao longo de toda sua vida, variando a forma e a intensidade desta sustentação, uma vez que a condição humana apresenta uma instabilidade jamais completamente resolvida pela maternagem suficientemente boa inicial. Para além do universo infantil, compreendemos que a sustentação da continuidade de ser do paciente, seja ele criança ou adulto, tenha recebido ou não o diagnóstico psicopatológico de um sofrimento dito psicótico, promove o alívio de sofrimentos e pode evitar o adoecimento emocional. Favorecido pela intervenção psicoterapêutica, o paciente sustentado mostra-se capaz de, com seu próprio potencial criativo, integrar, revisitar e inaugurar aspectos de si mesmo que se encontravam antes dissociados ou não-vividos. Portanto, a proposta desse estudo visa discorrer sobre quais circunstâncias o sujeito erotomaníaco, considerando a sua fragilidade de simbolizar as significações, necessita reinventar a realidade a ponto de conseguir viver nela, bem como, apresentar às condições adversas que o analista enfrenta nesses cenários quando oferece o holding, que exigem não só conhecimento, mas, principalmente, disposições emocionais específicas.
Leda Maia
Bacharela em Direito (UFPB), Mestrado (UFPE), Psicóloga Clínica (UNIPE), Especialista em Psicologia Jurídica (EPSI), Especialista em Avaliação Psicológica (IPOG), Professora Universitária (UNIPE), Supervisora Clínica. Coordenadora da Pós Graduação na Teoria
Psicanalítica (UNIPE), Membro do Grupo Winnicott Paraíba, Membro da Sociedade Psicanalítica da Paraíba (SPP).