EIXO 7: Ambiente e Holding, interpretação e manejo

Sabemos que a ideia sobre interpretação se inicia com Freud, mas o conceito de interpretação dentro do setting terapêutico foi-se aperfeiçoando conforme a contemporaneidade. A psicanálise freudiana é concebida como uma ciência de investigação do inconsciente e entende o sintoma como manifestação do conflito inconsciente entre o desejo e a censura, nada mais natural e pertinente do que o fato de a interpretação estar no centro do trabalho psicanalítico

A interpretação pode ser considerada também como um canal de comunicação entre as duas pessoas que ali se encontram e estão dispostas a exercer a escuta terapêutica e a fala. Interpretar uma fala, um relato do paciente pode ser algo muito mais complexo do que parece. Ao mesmo tempo que ora ou outra por um insight a interpretação e a compreensão da questão abordada pode ser esclarecedora para os dois lados.

Pensando a prática clínica winnicottiana o uso da interpretação é referido aos conteúdos reprimidos, limitando-se os casos em que já há o estabelecimento do eu unitário e de uma realidade psíquica pessoal. A interpretação destina-se à revelação de um sentido onde esteja presente ou oculto, seja num texto, numa figuração ou no próprio comportamento humano.

O que se espera do tratamento analítico é que a interpretação feita pelo analista do sentido latente dos conflitos, atualizado na relação transferencial, muitas vezes na forma da resistência, acabe por desmanchar as soluções de compromisso que constituem os distúrbios psíquicos.

Nesse sentido, é necessário além de interpretar/ manejar e saber agir em situações desafiadoras no contexto analítico. O manejo restitui a continuidade de ser, permite o resgate do sentido da vida, permite ao paciente a possibilidade de ser ele mesmo de forma integrada e permite também o final da análise. Essa continuidade é dada pela passagem por um teste de realidade no encontro com o novo objeto externo, na sessão de análise. A ação criativa, propicia ao paciente a experiência de recriação da realidade, a partir da experiência real com o outro. O ser primeiro, o fazer e o agir depois são os protagonistas do processo.

Ao buscar entender os reais significados das vivências de seu paciente, Winnicott chega a algumas formulações decisivas a respeito da teoria da sexualidade humana, formulando conceitos revolucionários sobre os significados da existência dos aspectos femininos e masculinos puros, na origem da constituição do psiquismo humano. Algumas das consequências decisivas dessas descobertas aparecerão na clínica.

A condição natural para o desenvolvimento que acabará por levar o indivíduo a ser no mundo, de maneira significativa para si mesmo e para os demais, depende da provisão ambiental, depende no início, essencialmente, da mãe.

No território da análise, aquilo que se passa de fundamental não é a transferência de representações pretéritas deslocadas para a figura do analista, mas, para Winnicott, é algo que tem a ver com experiências reais entre duas pessoas, em que uma concede à outra um espaço onde ela possa ser e encontrar objetos, que possam ser usados, um espaço potencial livre da intrusão do outro, onde se possa brincar e criar.
Podemos discutir se cabe ao analista, tal como a mãe, manejar o ambiente, sendo e fazendo, para que o paciente possa ser e fazer em seu próprio vir a ser.

Juliana Borges
Psicóloga clínica pela Universidade de Uberaba, especialista em teoria psicanalítica e colaboradora do grupo de estudo Espaço Winnicott de Psicanálise Uberaba.